sábado, 28 de agosto de 2010

E a vida dá a volta

A vida feita de tempestades e compassos de espera desesperantes, reserva-nos sempre magia.
Uma palavra simples que engloba tanta coisa. Magia.
Aos 38 anos fui pai. A Teresa aos 37 foi mãe. Nunca esperávamos esta aventura que agora começa.
Certo é que o desejo estava lá, sempre presente nos nossos planos estava um filho. Ou filha.
Fomos adiando até que uma Lua nos abençoou. A Lua meus caros, a Lua. Não acreditam? Foi a Lua vos garanto eu. Aquele calhau estéril que vagueia à nossa volta à biliões de anos tem um poder desgraçado.
Foi na Lua que as águas rebentaram. 9 Luas certinhas. Cheia como um ovo e toma lá um rebento.
02:00 da matina e ai vamos os três em direcção à Santa Maria. Que belo nome e que paz nos dá. Ir em direcção a uma Santa para nascer um filho é coisa que nos dá alguma segurança. Muita mesmo.
Se fosse em direcção ao Alfredo da Costa de certeza eu não tinha aquele sentimento. Alfredo?? O meu filho e a mâe nas mãos do Alfredo?? Prefiro a Santa, ponto final.
Nunca mais vou esquecer aquelas horas de espera até que aterrou nos meus braços aquele olhar.
Corredores imensos, frios, sem ninguém presente por ser de madrugada, ouvir atentamente o que se passava ao longe na sala de parto. Todo eu estava em pedra. Fiquei estátua de bronze ao sol. Quente de preocupado, estático de concentrado nos sons, parecia um lobo percorrendo toda a minha floresta de sentimentos. Finalmente ouvi ao longe um choro - "É ele...tenho a certeza que é ele..conheço aquela voz...o puto safou-se...e a mãe??". Novamente o lobo percorre a floresta procurando no ar um farejo de noticias. Estava radiante mas ainda preocupado. Ainda não tinha terminado o turbilhão que foram aquelas horas. No vão das escadas onde fui obrigado a esperar, abre-se uma porta. Vem de lá uma rapariga nova e diz - "Correu tudo bem. Mãe e bebé estão de saúde. Parabéns". Nem estas palavras me convenceram. Sou desconfiado por natureza e tenho sempre presente as florestas da vida.
Lembro-me perfeitamente da parteira que o trouxe embrulhado num pano azul e de barrete enfiado até á testa. Não que o tempo já esteja distante, mas lembro-me de tudo em câmara lenta. Até sei de cor quantos passos a senhora deu na minha direcção desde que saiu da sala até chegar a mim e dizer - "tome lá pai, aqui tem o seu filho..felicidades". Só lhe disse - "Obrigado senhora...muito obrigado."
Minúsculo na sua essência humana, abriu os olhos e tentou vislumbrar uma cara de pânico de satisfação e milagre de um pai incrédulo. Nunca mais vou esquecer aquele momento. Tinha chegado o João Nuno ao Mundo.
Juntamos-nos os três na maca num corredor de Santa Maria e abraçamos-nos com amor, com deleite a ver a criatura mamar pela primeira vez. Ficámos doidos. O mundo nunca mais vai ser o mesmo.
Finalmente tínhamos algum descanso emocional. Ficámos ali a babar e lamber o pequeno lobo e a rosnar de satisfação. Na nossa pequena toca criamos mais um laço. Criamos mais um. Magia.

Para quem diz que está preparado para ter um filho agarre-se primeiro á cadeira.
Preparados o tanas. Estão muito enganadinhos.

Magia meus amigos, Magia e Lua. O resto é conversa.

Obrigado Santa Maria.


Pico2009Açores

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