domingo, 1 de março de 2009

Um desleixo temporário

Boas

Já cá não vinha dar um olá há algum tempo. Assim é por vezes. Não se passa nada de grave, apenas time-out para reflectir e perceber o que se passa com os pesqueiros, com as leis, com as tricas e baldrocas e um assentar de convicções cimentadas em certezas por vezes tristes.
Chego a conclusões sobre a forma de estar do pescador Português que não sabia.
De um momento para o outro quando o interesse desaparece no silêncio das dicas vemos um deserto de gente. Apenas somos o que capturamos? Não sei, mas cada vez mais vejo a pesca como algo muito pessoal e de círculos muito estreitos. Compreendo cada vez mais aqueles que têm uma relação com a pesca muito pessoal e acarinhada, não estou ainda no caminho certo, sei que tenho muitas luas para perceber o que quero da pesca. Sei neste momento que é uma pequena paixão que me faz sair da cama mais cedo, desfruto do mar e da natureza, vejo os cães a correr na praia com a mesma alegria quando encontro algum peixe num remanso, quando vou içar um robalo de kilo junto a um chapinhar de onda a bater na proa de pedra, salto e sacudo o pêlo tal e qual como os canídeos
Vejo as aves esvoaçar sem esforço contemplando um cenário de um azimute que só em sonhos podemos ver.
Vejo os caranguejos a fugir com todas as patas e a procurar refúgio á luz da minha presença.
Vejo namorados nas falésias ao pôr-do-sol apaixonados pelo mundo e por eles.
Vejo as minhas pegadas na areia e percebo a minha existência, olho para trás e já é passado, olho para a frente e tenho um mar lisinho de milhões de grãos para pisar o futuro. O Mar sempre me encantou, sempre falámos da mesma maneira, se olharmos bem o mar é bipolar na atitude, na geografia, na temperatura, na cor, tal como eu, um bocado borderliner, bipolar, um bocado ao sabor das emoções como as marés de Lua.
Vejo os velhotes de calções em pleno Inverno e t-shirt branquinha a rapar marisco das rochas, fazem-no com mestria e fogem das ondas há muitos anos. Levam as suas sacas pelas arribas tal como as mulas do Nepal. Afinal ir para outros continentes é já aqui ao lado, a 30 minutos de Lisboa.
Ás vezes quando subo uma arriba que me deixa as pernas a arder, paro um pouco e sinto todo o corpo a latejar enquanto olho o horizonte, vejo a curvatura do Planeta Terra ao longe nas 100 milhas e sinto a sua forma, é mesmo redondo.
A pesca não é só sites, blogs, patrocínios, promessas, invejas, interesses e coisas fatelas. A pesca é um mar interior, é uma alma á parte, é um desporto tão bom como o Yoga ou o Krav Maga, é o que quisermos ser no dia e na hora, no minuto contado ao segundo.
Assim é o Mar, um gajo cheio de surpresas, um tipo com o qual podemos contar na sua força, um sai de baixo quando se zanga, um líder que nos anima e motiva, um santo em dias de verão, um lugar sagrado quando estamos perdidos, uma onda de frescura em fins de tarde de Agosto.
Do signo Peixes é o meu canhoto irmão, mas como eu chuto com pé esquerdo sendo dextro se calhar fiquei com um bocado de Peixes dele. Mais ainda me convenço que a Bipolaridade do mar é igual à minha. É fascinante.

Não macei muito pois não???


AB
Nuno

4 comentários:

Anónimo disse...

Não maçaste nada e compreendo-te perfeitamente !


Um abraço
Sérgio

Ricardo Leonardo disse...

Viva Nuno,
Ia comentar os temas que abordas no teu texto, mas fiquei-me... por neles me rever e aqui estarem tão bem condensados!
Posto isto, urge ir à pesca (já não o faço há tanto tempo...), e ver-mos devolvida a polaridade de um mar remansos.

Cumprimentos,

Ernesto Lima disse...

Viva Nuno!

Valeu a pena o desleixo temporário!

Belo texto!

Abraço

Ernesto

Nuno João Ribeiro disse...

Meus amigos.

Senão fossem vocês o alento não era tanto.

Um obrigado a todos pela força.

AB
Nuno

Pico2009Açores

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